Silêncios que falam, a morte como parte do cuidado - ZooVet em pauta com Dr. Alessandro Machado



A ortotanásia, termo que deriva do grego orthos (correto) e thanatos (morte), refere-se à morte no tempo certo, sem abreviações ou prolongamentos artificiais do processo de morrer. No contexto da Medicina Veterinária, ela representa uma abordagem compassiva que respeita o curso natural da vida, permitindo que o animal morra com dignidade, sem o uso de medidas desproporcionais que apenas estendem o sofrimento. O foco está no conforto, no alívio da dor e no acolhimento tanto do animal quanto de seus tutores, que vivenciam esse momento de despedida com a consciência de que todas as formas de cuidado possíveis foram oferecidas até o fim. A ortotanásia é, portanto, uma prática que exige sensibilidade, empatia e, sobretudo, o respeito pelo ciclo da vida.

Por outro lado, a mistanásia — do grego mischos (errado) e thanatos (morte) — é a expressão do descuido, da negligência ou da omissão diante do sofrimento animal. Ela ocorre quando, por falta de acesso a serviços veterinários, desconhecimento, abandono ou ausência de políticas públicas efetivas, os animais são deixados à própria sorte no momento mais vulnerável de suas vidas. A mistanásia reflete não apenas uma falha estrutural na oferta de cuidados veterinários, mas também um desafio ético e social que precisa ser enfrentado com seriedade. Animais que morrem com dor, sem assistência, vítimas do desamparo, revelam a urgência de se discutir equidade no acesso aos cuidados de fim de vida.

Enquanto a ortotanásia representa uma escolha consciente e ética por permitir que o animal morra em paz, a mistanásia escancara as desigualdades que ainda existem no cuidado com os animais de companhia. Cabe aos profissionais da Medicina Veterinária, juntamente com a sociedade, promover um debate mais amplo sobre essas realidades, incentivando práticas humanizadas e políticas que garantam acesso à saúde até os momentos finais. O modo como tratamos nossos animais no fim da vida diz muito sobre a nossa evolução como sociedade — e assegurar que nenhum deles morra em sofrimento e abandono é, sem dúvida, um compromisso que precisamos assumir com empatia, responsabilidade e amor.

ZooVet em Pauta com Dr. Alessandro Machado | Ep. 46


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