Eu queria que a morte morresse | Por: Adaelson Alves Silva


Dr. Adaelson Alves Silva, piritibano, radicado no Paraná, médico Nefrologista. E autor do texto "Eu queria que a morte morresse".

Veja mais um episódio da Série "Um Dedo De Prosa".

Vermeinho e eu saímos para caçar passarinho. Naquela época era permitido porque outrora isto não era pecado. A gente caçava para comer os indefesos pássaros, assadinhos e com farinha de mandioca .Vai daí que chegamos na beira da barragem do Açude da Leste. Lá encontramos três pescadorres. Estou falando de Tonho Perrenche, Ovídio Pandeirista e Quenguerengue. Segundo relato de um deles, já estavam ali desde o dia anterior. Já tinham tomado umas e outras e pescado algumas traíras, muitas piaba e alguns jundiás.

Eu me aproximei do grupo e ouvi Tonho Perrenche contando para os outros o que tinha presenciado na noite anterior.

A prosa foi a seguinte: “eu estava aqui com o meu anzol e minha pinguinha na outra mão, quando ouvi, com estes ouvidos que a terra há de comer, uma conversa entre um escorpião e um sapo cururu.

O escorpião se aproximou sorrateiramente do sapo e disse:

- Sapinho lindo, você me carrega até a outra margem do rio?

- Só se eu tivesse o miolo mole. Você vai me picar, eu vou ficar paralisado e vou afundar.

- Isto é ridículo, retrucou o escorpião. Se eu picasse você, ambos afundaríamos.

Confiando na lógica do escorpião, o sapo concordou e levou o escorpião nas costas, enquanto nadava para atravessar o rio.
                         No meio do rio, o escorpião cravou seu ferrão no sapo.
Atingido pelo veneno, e já começando a afundar, o sapo voltou-se para o escorpião e perguntou: "Por quê? Por quê?"

O escorpião respondeu: Porque eu sou um escorpião e esta é a minha natureza.

Esta fábula está sendo reproduzida, porque eu tenho me perguntado: Será que a morte não cansa de trabalhar? Vejo os meus colegas de profissão, bem como os demais profissionais da área de saúde, à beira da exaustão. Ela, pelo contrário, trabalhando dia e noite com o seu cutelo afiado. Não consigo entender, como ela ainda arruma tempo para afiar o cutelo.

Quem me conhece sabe que eu sou do bem. Confesso que, num momento de tristeza, eu pedi para que a morte morresse. Pedi com muita fé. Até o momento, nenhum sinal de que ela possa me atender. Acho que, talvez, como o escorpião, esta é a natureza dela.

Acredito que o melhor mesmo é nos protegermos. Distanciamento social, álcool em gel para lavar as mãos, máscara e outras medidas já conhecidas por todos, enquanto a vacina não contempla todo mundo.

 

 



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